Sorvete

Tudo começou numa tarde quente de setembro. Paulo estava sozinho com Júlia, na casa dos pais dela, conversando, namorando e, pra matar o calor, tomando uma coca-cola com gelo e limão.

Sendo ambos jovens e apaixonados, imagina-se que o que menos faziam era conversar, aproveitando a ausência de dona Tereza, a mãe de Júlia, para trocarem beijos cada vez mais ardentes, para abraçarem-se mais calorosamente.

Como era de se esperar de um setembro cearense, o calor estava matando. Mas podem ter certeza de que lugar mais quente que aquele sofá naquela tarde não seria fácil de encontrar.

Não se sabe de quem foi a idéia, mas logo começaram a se beijar com uma pedrinha de gelo entre os lábios, passando de uma boca a outra numa tentativa vã de aplacar o calor. O fato é que tal pedra escorregou, desceu o pescoço de Júlia e se alojou na entrada de seu decote, próximo ao seio esquerdo. Paulo percorreu, em seguida, talvez sem nem ao menos perceber o que estava a fazer, a trilha criada pela passagem do gelo, vendo sua namorada estremecer e respirar pesadamente à medida que era tocada por sua língua, até que ele finalmente conseguiu apanhar o gelo. Ótimas idéias surgiram em sua mente.

Júlia era virgem. Não por falta de tentativas, mas simplesmente porque sempre ficava nervosa demais na “hora H”. Vendo que o gelo a excitara, resolveram comprar sorvete pro próximo encontro.

Semana seguinte foram a um motel. Não pegaram o quarto mais luxuoso, optaram por um simples, sem ar-condicionado (para o calor levaram sorvete), sem espelho no teto (Júlia detestava-os), apenas cama e cd player.

Paulo gravara uma seleção de músicas românticas (endless love, unchained melody, love of my life, e outras mais) para criar clima. Clima este que Paulo sobre desenvolver ao, de início e ainda vestidos, deitar-se ao lado dela, apenas acariciando seu rosto e cabelos enquanto, bem baixinho, ao pé do ouvido, traduzia as músicas. Com pouco tempo ela interrompeu-o com o beijo mais apaixonado que jamais havia dado.

Tudo correu naturalmente, lentamente. Calcula-se que passaram cerca de vinte e cinco minutos beijando-se e acariciando-se antes de tirarem as camisas. Quando Paulo passou sorvete de morango no seio direito de Júlia, ela soltou um leve gemido, que foi acompanhando pelo endurecimento do mamilo, devido tanto ao frio quanto ao tesão. Tesão este que foi aumentando à medida que ele chupava o sorvete.

Dizem que a mente se desliga em momentos de pura excitação como este. Dizem que voltamos a ser como animais, guiados apenas pelo instinto. Alguns conjecturam que os ferormônios (e dizem que a raça humana há muito os perdeu!) são os responsáveis por tal comportamento. Seja como for, Júlia estava bem mais desinibida do que o de costume, tanto que pediu para ser totalmente lambuzada com o sorvete e depois chupada.

Paulo atendeu o pedido. Cobriu-a com o sorvete, colocando cobertura de chocolate (ele viera preparado!) nos lábios, seios, umbigo e na região pubiana. Ele lambeu e chupou cada cm² de pele demoradamente, sendo que nas áreas com cobertura ele demorou-se o suficiente para sentir o corpo dele tremer de prazer. Na última área que aplicou cobertura, ele demorou-se tanto, mas tanto que a respiração ofegante dela transformou-se em gemidos e os leves tremores em espasmos fortes e ritmados, do tipo que claramente prenuncia a chegada do orgasmo – o primeiro da vida dela.

Virando-se, Júlia começou a acariciar e a beijá-lo. Descendo a mão até seu membro viril, pôde sentir seu estado rochoso – se é que poderia ser chamado de membro, pois o mesmo, de tão duro, poderia ser comparado a um mastro de navio: grande, forte, capaz de resistir a uma tempestade – de velas estendidas! – sem sequer se abalar.

Ao tocar tal órgão, Júlia, além de tudo, percebeu-o quente. Passou, então, o que restou de sorvete nele e começou a lambê-lo, chupá-lo, até a mordisca-lo levemente, o que o fez misturar sua seiva ao sorvete.

Descansaram então. Abraçados, perdidamente apaixonados e felizes com o que acabaram de realizar, o mundo parecia resumir-se àquele quarto, o que os deixava mais felizes ainda.

Ouso dizer que não descansaram mais de vinte minutos antes de começarem tudo novamente.

– – João Octávio A. Trindade Boaventura