Sobre envelhecer

Estava hoje pensando sobre a conseqüência lógica da vida: o envelhecimento. Envelhecimento físico é algo perceptível, mas eu me peguei pensando no envelhecimento mental.

Quantos de nós nunca vimos um amigo apaixonado e não dissemos que ele parece até um adolescente? Vários, com certeza. Logo, ser adolescente, além de possuir idade entre 12-18 anos, inclui sofrer de amor? E ser adulto não inclui?

Após algumas cervejas (afinal, sou um filósofo de bar), cheguei a conclusão que quando envelhecemos parecemos com uma folha manuscrita exposta às intempéries da vida. Com o tempo, desbotamos, perdemos intensidade. Deixamos de amar apaixonadamente. Na verdade, pelo que vejo hoje nos “adultos” (pessoas com mais ou menos trinta anos, emprego e família constituída), eles não se apaixonam por nada. Claro, curtem futebol, mas nunca vi um rezar pra seu time ganhar (já vi crianças fazendo isso).

Como tais pessoas se relacionam com o sexo oposto? De maneira bem prática, pelo que percebo. Sentem alguma atração, conversam (alguns chegam a perguntar, do nada, quando serão convidados para conhecer o apartamento do outro), bebem um pouco além da conta, se beijam e vão pra um motel. Depois, possivelmente, se ligam no dia seguinte, falam pouco sobre o assunto e repetem tudo, até chegar no ponto em que a bebida é desnecessária. Nunca vi um de meus tios (ou amigos deles) sofrendo realmente de amor. Nunca vi ninguém criar poesias pra pessoa amada ou, salvo casos patológicos, deixar perceber que sente ciúmes.

Será que envelhecer é isto? Se sim, por que motivo? Será que sofremos tantas desilusões na juventude que nosso coração “cicatriza” de uma maneira que não sinta mais nada com intensidade? Até o amor em relação aos filhos é quase inexistente. Muitos pais vêem os filhos saírem pra estudar fora, ou até mesmo casar, e não demonstram sentir nenhuma perda. Vejo pessoas casadas que traem seus cônjuges como a coisa mais natural do mundo. E por quê? Será que amam seus parceiros adúlteros? Não, pouco provável. Apenas o fazem porque não amam o suficiente (eu diria que de forma alguma) seus “originais”.

Por falar em não amar, é terrível perceber que, muitas vezes, alguns casais mal se falam. Devido ao mundo moderno, um trabalha numa cidade e outro em outra, distantes. Quando se vêem, fazem sexo, feira, cinema, discutem orçamento. Poucos realmente saem pelas ruas de mãos dadas (eu jamais namoraria alguém que dissesse que isso é ridículo) ou se beijam em locais públicos. Tá, eu sei que vemos pessoas nessa faixa etária (aproximadamente 30) às vezes se beijando em shoppings, praças ou restaurantes. Normalmente isso ocorre quando o envolvimento é recente ou celebram algo, como aniversários.

Nunca vi adultos brincando, fazendo cócegas um no outro. Eu, pessoalmente, adoro fazer cócegas em minha irmã mais nova e adoro quando ela revida ou chega de surpresa. Em raras ocasiões, fiz isso com pessoas de minha idade (e nem sou tão velho assim), muito menos em público.

Acredito que todos nós já tivemos uma fase poética na vida, principalmente na adolescência, quando nos apaixonávamos. Se não chegávamos a escrever, copiávamos poesias ou letras de músicas famosas e melosas. Não raramente enviávamos tais poesias/letras para a pessoa admirada. O que mudou quando começamos a envelhecer? Esquecemos como criar poemas ou, ao menos, copia-los? Acho que não. Volto à tese de que deixamos de fazer isso para evitar nos machucarmos como quando éramos mais jovens. Triste. Afinal, “por que caímos, jovem Bruce? Apenas para nos levarmos novamente” (Alfred em Batman Begins).

Se envelhecer realmente significa desbotar, apagar, diminuir as sensações que nos permitimos ter, sermos forçados a nos contentar com a mediocridade apenas por medo de mudar, sinto dizer mas pretendo simplesmente parar aqui. Que vocês acumulem cabelos grisalhos, preocupações com a saúde, as finanças e o futuro. Eu vou viver o Agora, aumentar meus já grisalhos cabelos e, se a Musa permitir, aumentar mais alguns poemas no meu acervo.

Até a próxima


-- João Octávio
fã de Peter Pan e cidadão
honorário da Terra do Nunca